domingo, fevereiro 17, 2008

Lenda - Justiça popular

O Castelo de Arnóia, com aspecto nitidamente medieval, ergue-se no roqueiro cume do monte desta freguesia, de robusta construção. Conseguiu resistir ao tempo e ainda hoje, compreendemos o seu papel na salvaguarda e sossego dos povos confiados à sua vigilante protecção, naqueles tempos remotos.
Ignora-se por completo tudo o que diga respeito à sua fundação, atribuindo-a, uns aos romanos, outros aos árabes.
Na primeira hipótese, à sombra dele teria tido assento a povoação de Celióbriga, a qual, pela semelhança do nome, alguns pretendem identificar com Celorico de Basto. Mas, fundado por uns ou por outros, ou simplesmente pelos primeiros e conservado pelos segundos, afirma-se com alguma segurança, que o Castelo de Arnóia já existia no século X e que encerrado em 1002, o ciclo das invasões anuais de Almançor, terá sido restaurado por Muninho Viegas, o Velho, que assim pôde prosseguir na sua missão, mais de paz do que de guerra.
Contudo, tinha o seu alcaide e os homens necessários ao serviço de vigilância.
O Alcaide desta época era Vasco Martins da Cunha, neto de Lourenço Fernandes da Cunha e segundo sobrinho do célebre D. Gualdim Pais, Mestre da Ordem do Templo.
Atendendo que a família vivia habitualmente em Braga e, aliada aos poucos rendimentos da alcaidaria, pediu a exoneração do cargo que a Rainha D. Beatriz, a “Rabuda”, mulher de D. Afonso III, lhe havia confiado.
Tudo isto se terá passado entre 1281 e 1282, em que por carta de D. Dinis, é dado o arrendamento do Castelo ao mercador de panos Martim Joanes, que se obrigaria a pagar duzentos e dez morabitinos velhos de renda anual e contratar, por quinhentos soldos, para alcaide, um cavaleiro ou escudeiro de linhagem.
E assim, pouco tempo mais tarde, era nomeado para este cargo Pêro Menendis, filho de Gonçalvus Menendiz, de Muxões, termo de Valdebouro que não obstante descender de boa família e ser cavaleiro vassalo da Casa de Barcelos, gozava de fraca reputação, pelo seu feitio libertino, mulherengo e brigão que o tornavam um homem sem escrúpulos.
Mas… tudo tem o seu termo!
E como o Castelo de Arnóia tem uma espécie de auréola de lendas muito significativas, passamos a descrever uma lenda de “Justiça popular...na Villa de Basto".

Na sede da povoação da pequena Vila de Basto, moravam duas irmãs, órfãs, padeiras de profissão e muito bonitas. A mais velha chamava-se Guiomar, de trinta anos, já viúva de um carpinteiro. A mais nova chamava-se Aldonça, não tinha mais de dezoito anos, ainda solteira e estava prometida a Sancho Meleiro, um negociante de cereais e moço de bons costumes.
Acontece que o alcaide apaixonou-se pela irmã mais nova, a Aldonça, fazendo-lhe permanentemente propostas indecorosas, mas sem nunca ter sido correspondido aos seus desejos, pois esta jovem já tinha decidido casar com o Meleiro.
Decidido que estava o casamento, era necessário pagar o tributo que, segundo a tradição local, há muito tinha substituído o antigo e já caduco direito consuetudinário (usos e costumes) dos senhores da terra poderem “usufruir” as noivas antes dos maridos…Efectivamente, o “direito da pernada”, que consistia no privilégio da “prima noctis”, já tinha caído em desuso há muito tempo.
Quando os dois se dirigiram ao castelo para pagarem o tributo, o alcaide, perante a beleza da rapariga, sentiu-se atraído, recusou o tributo pago daquela forma, e exigiu pôr em prática direitos caídos em desuso. Indignada, a noiva lançou-lhe aos pés o tributo e terá dito que só ao seu futuro marido pertenceria.
Ao deparar-se com tal ofensa, o noivo envolve-se numa luta renhida com o alcaide, onde nenhum quer o lugar de vencido. Meleiro não desarma e, não se conformando com esta atitude, vai desferindo alguns golpes no seu rival. O alcaide, sentindo as forças fraquejar, clama por socorro e é acudido por alguns homens do castelo que entretanto, conseguem manietar o Meleiro. Então o alcaide prende-o e manda cortar-lhe as orelhas, como se ele fosse um ladrão (castigo que na Idade Média se dava aos ladrões).
Ao ver tudo isto, Aldonça fugiu do castelo e apesar de ter partido uma perna no percurso, conseguiu chegar à vila e narrar o que se passava, pedindo que libertassem o seu noivo.
Armaram-se homens e mulheres que, apressadamente, vencem a encosta do monte, em direcção ao castelo, o povo todo amotinou-se, tocou a rebate e de toda esta redondeza das Terras de Basto, chegaram multidões, invadiram o castelo, com chuços e foices e ameaçam pegar fogo à torre. Então o alcaide, receando um mal maior, e, possivelmente, irremediável, decide-se a indemnizar o Meleiro pela desfiguração que lhe causara e a restitui-lo à liberdade.
O alcaide desistiu desta, mas ficou com os olhos na irmã mais velha, que se chamava Guiomar, já era viúva, mas também muito bonita.
Começou então a assediar a Guiomar com pedidos, com alguma insistência, até que uma manhã, o alcaide quando ia para a caça, cruzou-se na vila com esta mulher e ter-lhe-á dito que, à noite, a procuraria em casa. Apesar de lhe ter dito que era mulher honesta, tentou evitar qualquer espécie de represália. Ele, porém não se deu por convencido e quase lhe impôs que no regresso, o esperasse para combinarem melhor o encontro. Perante isto, Guiomar contou tudo ao seu futuro cunhado, o Meleiro, que viu aqui o melhor momento para se vingar do alcaide, tendo aconselhado a Guiomar a receber o alcaide em casa, onde tinha os fornos, desde que vá desacompanhado e guarde o maior segredo.
Já de regresso dos montados, à tardinha, o alcaide parou junto à residência de Guiomar e insistiu nos seus propósitos. Ela concordou, mostrando o seu melhor agrado, pois tinha o plano todo combinado com o cunhado.
Logo que anoiteceu, os dois cunhados conseguem avistar, da janela de onde espreitavam, dois vultos, e de imediato reconheceram o alcaide, que se fazia acompanhar de um homem do castelo, aquele que por ordem do amo, cortara as orelhas ao Meleiro.
O alcaide depois de bater à porta, entrou, enquanto o escudeiro aguardou pelo seu amo no exterior da residência. Quando o alcaide, depois de recebido por Guiomar com alguns sorrisos, dirigem-se para o interior da casa, mas claro, a família estava escondida e quando o alcaide julgava que ia ter a Guiomar entre os braços, o que sentiu foi a acha de armas a fender-lhe o crânio e… era uma vez um alcaide!
Para não existir vestígio do crime, meteram-no no forno do pão e o alcaide reduziu-se a cinzas.
A lenda acrescenta que o criado do alcaide, ao verificar que a demora já era grande, decidiu bater à porta, para lembrar ao amo a conveniência do regresso ao castelo.
Este, mal tinha atravessado a soleira da porta, apanhou com a mesma adaga que vitimara o alcaide e também foi atirado ao forno.
Depois de consumado o drama, Meleiro foi feliz na companhia da sua mulher Aldonça e Guiomar conseguia viver em paz.
Entretanto os dias iam passando e o alcaide não chegava ao castelo. Homens armados percorrem toda a redondeza, por veredas e caminhos. Em vão… ninguém vira o alcaide.
Como deixou de haver alcaide, D. Dinis decidiu entregar o castelo aos moradores do lugar, pela prestação anual de duzentos e sessenta morabitinos velhos, cabendo aos arrendatários o direito de nomear exactores para a respectiva cobrança e impedir actos de violência.
Esta situação manteve-se, pelo menos, durante dez anos, pois, em 1294, era investido na alcaidaria, D. Gonçalo Mendes.
Na opinião do historiador José Hermano Saraiva, isto significa o atrito, a situação de conflito entre os detentores do poder, da propriedade e da soberania e a gente do povo.
Terras de Basto, era uma terra de fidalgos, casas senhoriais, solarengas com torres, gente grande e ao mesmo tempo uma população humilde que lavrava a terra, semeava as searas e colhia o pão.

sábado, fevereiro 09, 2008

Prof. António Alves de Moura

António Alves de Moura, nasceu em Infesta, concelho de Celorico de Basto, a 19 de Abril de 1856, e faleceu, vitimado por uma congestão cerebral, em 3 de Setembro de 1927.
Nomeado professor de Britelo, Celorico de Basto, em 8 de Janeiro de 1877, exerceu até 8 de Janeiro de 1927, durante meio século num verdadeiro sacerdócio de trabalho exaustivo, educando e instruindo, pelo menos três gerações de alunos: pais, filhos e netos.
Paralelamente, foi durante alguns anos Secretário da Redacção e Editor do Jornal “O Povo de Basto”.
António Alves de Moura criou um Método de Leitura, aprovado oficialmente – tipo cartilha maternal – e um método designado por Quadro Móvel, instrumento com uma aparência elegante e estética e que utilizando já os caracteres móveis, ensinava os seus alunos a ler correctamente em poucos meses.
Este método arrecadou numa exposição do Rio de Janeiro, um primeiro prémio, sendo o autor condecorado com medalha de ouro, e também premiado na Exposição Pedagógica do Palácio de Cristal do Porto em 1890.
Em 1952, numa sessão solene pública, houve uma grandiosa e sentida homenagem, a título póstumo, prestada nos Salões da Escola Masculina da Vila de Celorico de Basto, pelas entidades oficiais, antigos alunos e saudosos amigos, comemorando simultaneamente a data em que 25 anos antes dera a última aula e o centenário do seu nascimento que se verificaria em breve.
António Alves de Moura era casado com D. Maria Marinho da Mota e Moura e pai de três filhos, o Dr. Eduardo Alves de Moura, e as Professoras D. Francelina Alves de Moura e D. Ana Marinho Alves de Moura, esta condecorada com o grau de Cavaleiro da Instrução e casada com Vasco Luís Monteiro, Professor do Ensino Primário.
Ao Largo em que se localizava a Escola “Conde de Ferreira”, onde foi seu primeiro professor, junto à Capela de Nossa Senhora da Conceição, e durante meio século leccionou, foi dado oficialmente, pelo Município de Celorico de Basto o nome de Largo Professor António Alves de Moura, cuja placa toponímica foi descerrada oportunamente.